“Aonde vai
parar a sociedade que...” A sociedade nunca vai parar, ela vai sempre
continuar. É preciso ter consciência da própria pequenez para compreender que
estamos sozinhos e somos menos que uma vírgula no grande livro do todo.
A sociedade hipersensível se magoa
com o que nos mantém vivos;a expressão. Experimente
falar qualquer coisa. QUALQUER COISA. A menos que você tenha
cometido a infantilidade de excluir todos que discordam de você, sempre haverá a
chance de ferir alguém. Permanecemos na inércia da
ignorância. Falo por mim também, sempre.
Sou hipersensível com as minhas
lutas que estão contidas quase sempre em lutas maiores. A legalização da
maconha, o playboy fascista, o machista, o opressor. Entretanto, me vejo entre
amigos maconheiros fascistas, playboys opressores, machistas comunistas... E só
consigo pensar em quão perdidos estamos em nossas próprias contradições.
Estamos banhados por uma
hipocrisia que não deveria condizer com os novos tempos. O preconceito é
natural, visto que não há como se relacionar com o mundo sem um (pré-) conceito
sobre a realidade. Imagine que está na sua frente uma parede branca e alguém
pergunta o que você está vendo. Você responderá: estou vendo uma parede branca.
Em seguida é pedido que você diga o que está atrás dela, sua temperatura e consistência.
Você não saberá responder as duas primeiras perguntas, pois são infinitas possibilidades.
Você poderá imaginar se é quente ou fria, se há um lindo mar ou um enorme
esgoto atrás dela. Mas a última pergunta você responderá objetivamente: pesada,
de concreto, dura e intransponível. Eis que é revelado que não se tratava
de uma parede, que o que você viu não era o que o seu cérebro interpretou. Você
se enganou.
É a teoria da alegoria da caverna dando voltas no niilismo moderno. Uma sucessão de erros, enganos e contradições, que nos fazem seguir parados no mesmo lugar. A revolta frente às injustiças sempre será visceral. Mas estamos caindo num poço de ilusão reacionária quando agimos no impulso de defender um mundo completamente bom. O bem e o mal fazem parte da dimensão da existência. O desequilíbrio está em externalizar o preconceito, o ódio e a raiva tolhendo o direito individual do outro, tornando a sobrevivência impossível.
Estamos com medo e somos acuados
por nós mesmos. Caímos na armadilha do sistema (seja ele qual for) de nos
conformar com a tragédia que não nos atinge. Enquanto isso, enfiamos as garras no que nos incomoda. Ferimos, rasgamos, pisamos e humilhamos quem pensa
diferente de nós. Somos absolutos em nossas convicções e vontades. Queremos
direitos ilimitados e queremos agora. Deixaremos para as próximas gerações a
missão de limpar as impurezas não só dos oceanos, mas também a da nossa própria
alma.
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